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Guia Completo de Medição de Produtividade na Construção

Guia Completo de Medição de Produtividade na Construção

Introdução

A produtividade é um dos pilares centrais na gestão de projetos de construção, impactando diretamente o cumprimento de cronogramas, o controle de custos e a resolução de disputas contratuais (pleitos). Medir com precisão a produtividade possibilita a identificação de gargalos, o estabelecimento de padrões realistas de desempenho e a fundamentação de reivindicações em litígios de obras. Este artigo apresenta em detalhes os principais métodos de medição de produtividade — DILO, MMA, Work Sampling, Time Study, EVM, OEE, TOC, métricas Lean e KPIs personalizados — e discute sua aplicação na construção de cronogramas, em disputas sobre pleitos e na gestão de projetos.

1 Panorama Geral dos Métodos de Medição

Método

Objetivo Principal

Aplicação Típica

DILO

Registrar rotina real (produtivo + improdutivo)

Diagnóstico de fluxo e identificação de desperdícios

MMA

Definir tempos-padrão por micromovimento

Padronização de métodos e estimativas de mão-de-obra

Work Sampling

Estimar percentuais de atividades por amostragem estatística

Processos dispersos ou de baixa repetitividade

Time Study

Cronometrar ciclos de trabalho para calcular média de tempos

Processos repetitivos de ciclo curto

EVM (Earned Value)

Integrar escopo, cronograma e custo

Monitoramento de projetos de construção

OEE (Overall Equipment Effectiveness)

Avaliar disponibilidade, performance e qualidade de máquinas

Ambientes industriais e com maquinário intensivo

TOC / Throughput Accounting

Maximizar taxa de geração de valor ao explorar gargalos

Otimização de fluxo em sistemas restritos

Métricas Lean (Takt, Percent Complete)

Sincronizar ritmo de produção e acompanhar conclusão

Last Planner System e canteiros Lean

KPIs Personalizados

Aderir a objetivos e contexto específicos do projeto

Qualquer cenário com métricas sob medida

2 Métodos de Medição Detalhados

2.1 DILO (Day In the Life Of)

  • Conceito: Registro contínuo — por observação ou autorrelato — de todas as atividades de um colaborador ao longo de um dia de trabalho, categorizando tarefas produtivas, esperas, deslocamentos e retrabalhos.
  • Vantagens:
    • Visão fiel do “como é” o processo no canteiro.
    • Excelente para mapear desperdícios e balancear equipes.
  • Limitações:
    • Não gera padrões de tempo ideais.
    • Requer esforço intenso de observação.
  • Referência-chave: Sacks et al. (2009), Lean Productivity in Construction: Implementation of the DILO Method.

2.2 MMA (Medição de Movimentos e Atividades)

  • Conceito: Quebra de uma tarefa em micromovimentos padronizados (alcance, posicionamento, liberação etc.), consultando tabelas como MTM ou MODAPTS para atribuir tempos “ideais”.
  • Vantagens:
    • Cria padrões realistas de execução.
    • Facilita elaboração de orçamentos de mão-de-obra.
  • Limitações:
    • Não considera interrupções ou variações do dia a dia.
    • Necessita de treinamento específico.
  • Referências-chave:
    • Maynard, Schwab & Stegemerten (1948), Methods-Time Measurement (MTM).
    • Barnes (1997), Motion and Time Study.

2.3 Amostragem de Trabalho (Work Sampling)

  • Conceito: Em instantes aleatórios, registra-se o estado do colaborador (trabalhando, aguardando, retrabalhando). A proporção de cada estado indica percentuais de tempo.
  • Vantagens:
    • Rápido de aplicar em operações não repetitivas.
    • Pouca interferência no trabalho real.
  • Limitações:
    • Menos detalhado que DILO.
    • Resultados estatísticos (intervalos de confiança).
  • Referência: Barnes (1997), Motion and Time Study.

2.4 Estudo de Tempos (Time Study)

  • Conceito: Uso de cronômetro para medir ciclos completos de tarefas repetitivas, estabelecendo tempos médios.
  • Vantagens:
    • Fácil aplicação em rotina repetitiva.
    • Rápida obtenção de dados.
  • Limitações:
    • Não decompõe em micromovimentos.
    • Pode mascarar variações individuais.
  • Referência: Niebel & Freivalds (2009), Methods, Standards, & Work Design.

2.5 Earned Value Management (EVM)

  • Conceito: Compara valor planejado, valor agregado e custo real, permitindo prever variações e tendências em prazo e orçamento.
  • Vantagens:
    • Integra escopo, cronograma e custo em um único indicador.
    • Suporta tomadas de decisão de alto nível.
  • Limitações:
    • Requer sistema de medição de progresso físico consistente.
    • Complexidade no cálculo de “percent complete”.
  • Referência: PMI (2021), PMBOK® Guide.

2.6 Overall Equipment Effectiveness (OEE)

  • Conceito: Produto da disponibilidade × performance × qualidade de um equipamento.
  • Vantagens:
    • Monitora eficiência de máquinas.
    • Facilita planos de manutenção (TPM).
  • Limitações:
    • Focado em máquinas, não em mão-de-obra.
  • Referência: Nakajima (1988), Introduction to TPM.

2.7 Throughput Accounting / Teoria das Restrições (TOC)

  • Conceito: Identificação de gargalos do sistema para maximizar a taxa de geração de valor (throughput).
  • Vantagens:
    • Foco estratégico na restrição mais crítica.
    • Aumenta rendimento global do processo.
  • Limitações:
    • Necessidade de análise sistêmica contínua.
  • Referência: Goldratt (1984), The Goal.

2.8 Métricas Lean de Fluxo

  • Takt Time: Ritmo de produção necessário para atender à demanda do cliente.
  • Percent Complete: Percentual de conclusão de atividades segundo o Last Planner System (LPS).
  • Vantagens:
    • Sincroniza fluxo e reduz buffers excessivos.
  • Referência: Ballard (2000), “The Last Planner System of Production Control”.

2.9 KPIs Personalizados

  • Conceito: Indicadores desenhados sob medida (m² executados/dia, valor agregado/fase, taxa de retrabalho).
  • Vantagens:
    • Alinhados aos objetivos estratégicos do projeto.
  • Limitações:
    • Demandam definição rigorosa e coleta de dados adequada.
  • Referência: Kerzner (2013), Project Management: A Systems Approach.
  1. Importância na Construção de Cronogramas
  1. Precisão no Planejamento
    • Tempos-padrão (MMA, Time Study) e ritmos de produção (Takt) fundamentam estimativas de durações.
  2. Balanceamento de Recursos
    • DILO e Work Sampling revelam gargalos, permitindo redistribuir equipes e equipamentos.
  3. Ajustes Contínuos
    • EVM e métricas Lean indicam desvios do cronograma, guiando ações corretivas imediatas.
  1. Papel na Resolução de Pleitos (Disputas)
  • Fundamentação de Reclamações
    • Registros DILO e Time Study comprovam atrasos ou improdutividade por fatores externos ou imprevistos.
  • Cálculo de Horas Adicionais
    • Tempos-padrão MMA evitam superestimativas, trazendo objetividade para reivindicações de mão-de-obra extra.
  • Negociação Baseada em Fatos
    • Dados de OEE e EVM fortalecem argumentos técnicos em perícias e mediações.
  1. Contribuição para a Gestão de Projetos
  • Visibilidade de Desempenho
    • Dashboards de EVM, OEE e KPIs geram relatórios claros para stakeholders.
  • Tomada de Decisão Ágil
    • Métricas Lean e TOC orientam priorização de ações em campo.
  • Melhoria Contínua
    • Ciclos PDCA se alimentam de dados DILO e Work Sampling para otimização de processos.

 

Conclusão

A medição de produtividade na construção deve ser encarada como um conjunto integrado de metodologias.

  • DILO e Work Sampling mapeiam a realidade do canteiro.
  • MMA, Time Study e KPIs criam padrões e metas.
  • EVM, OEE e TOC fornecem controle e visão estratégica.
  • Métricas Lean sincronizam o fluxo de trabalho.

Aplicar essas técnicas de forma articulada permite:

  • Planejar cronogramas realistas e executáveis.
  • Estruturar pleitos baseados em evidências rigorosas.
  • Conduzir projetos com maior previsibilidade e eficiência.

 

Referências

  1. Taylor, F. W. (1911). The Principles of Scientific Management. Harper & Brothers.
  2. Gilbreth, F. B. & Gilbreth, L. M. (1917). Motion Study: A Method for Increasing the Efficiency of the Workman. D. Van Nostrand.
  3. Maynard, H. B., Schwab, L. L. & Stegemerten, J. L. (1948). Methods-Time Measurement (MTM). McGraw-Hill.
  4. Barnes, R. M. (1997). Motion and Time Study: Design and Measurement of Work. John Wiley & Sons.
  5. Niebel, B. W. & Freivalds, A. (2009). Methods, Standards, & Work Design. McGraw-Hill.
  6. King, T. P. (1972). “Modular Arrangement of Predetermined Time Standards (MODAPTS)”, Industrial Engineering Journal.
  7. Sacks, R., Barak, R., & Goldin, M. (2009). “Lean Productivity in Construction: Implementation of the DILO Method”, Journal of Construction Engineering and Management, 135(11), 1115–1123.
  8. PMI (2021). A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK® Guide).
  9. Nakajima, S. (1988). Introduction to TPM: Total Productive Maintenance. Productivity Press.
  10. Goldratt, E. M. (1984). The Goal: A Process of Ongoing Improvement. North River Press.
  11. Ballard, G. (2000). “The Last Planner System of Production Control”, Proceedings IGLC-8.
  12. Kerzner, H. (2013). Project Management: A Systems Approach to Planning, Scheduling, and Controlling. Wiley.
  13. ABNT NBR 14760 (2004). Gestão de produtividade em canteiros de obras – Terminologia e procedimentos.
  14. ISO 11228 (2003). Ergonomics – Manual handling – Part 1: Lifting and carrying.

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